O património histórico, social e cultural de Portugal espelha-se nos seus museus, monumentos, nas suas gentes e nas várias localidades medievais espalhadas pelo país, que apesar de parecerem perdidas no tempo, não podem de todo ficar esquecidas. As aldeias históricas de Portugal resultam dos esforços de diversas gerações de Reis, para fortificar a região, de maneira a defender o nosso território e assim ao longo dos séculos foi-se construindo um património que ainda hoje permanece e invoca a bonita História de Portugal.
Como boa portuguesa que sou (apesar de ter nascido nos EUA, sou 100% portuguesa) adoro conhecer e explorar a riquíssima história que o nosso país tem para oferecer. Assim, hoje o artigo é dedicado às 11 das 12 aldeias históricas do nosso país, uma vez que não me foi possível visitar a aldeia de Castelo Mendo e como tal, não poderei falar dela. Neste pequeno artigo tentarei falar um pouco das aldeias em questão e alguns dos pontos que visitei e que acho que serão obrigatórios para quem visita o local.
Almeida
Almeida localiza-se no distrito da Guarda e é conhecida pela sua fortaleza (que forma uma estrela de doze pontas), sendo um dos mais bonitos exemplares europeus dos sistemas defensivos do séc. XVII. Acredita-se que a sua origem remonta a 61 a. C., quando vários habitantes de um castro lusitano, terão migrado para esta zona. O seu nome provém do árabe Al-Mêda (a mesa) e passou para a posse de Portugal aquando do Tratado de Alcanizes, em 1297.
Entrada para Almeida
O que visitar: – Picadeiro d’el Rei
A sua função inicial era servir como Trem de Artilharia e Arsenal e também para a manufatura e reparação de equipamento bélico. Durante algum tempo, serviu igualmente de quartel de artilharia e Fábrica de Pão. Posteriormente, no séc. XIX, sofreu vários bombardeamentos, ficando em ruínas. No final do séc. XX foi restaurado, mantendo algumas das características do edifício inicial, nomeadamente o portal com as armas reais e o muro circular. Actualmente, funciona como picadeiro, onde se praticam várias actividades equestres.
Picadeiro d’el Rei
– Porta Magistral de Santo António
A Porta Magistral de Santo António, datada do século XVII, foi projectada por Jerónimo Velho de Azevedo. Lateralmente, encontra-se protegidas pelas Casas da Guarda, latrinas e pias.
Porta Magistral de Santo António
– Igreja da Misericórdia
A Igreja da Misericórdia é um edifício do final do séc. XVII, que se encontrava anexo ao antigo Hospital com o mesmo nome, constituindo a Casa da Misericórdia. Acredita-se que a mesma será obra de Jerónimo Velho de Azevedo e possui uma imagem arquitectónica na fachada que mais não é que uma réplica da imagem da Porta Magistral de Santo António.
Na capela-mor encontramos um arco triunfal em cantaria, que está ladeado por dois retábulos de talha dourada do séc. XIX
Igreja da Misericórdia
– Terreiro Velho
O Terreiro Velho é um amplo espaço, que faz alusão aos antigos alpendres do mercado, que se situavam na praça Velha.
Terreiro Velho
As minhas impressões:
Apesar de ser conhecida por ser uma autêntica obra-prima da engenharia militar, Almeida é um local absolutamente tranquilo ideal para se ir conhecendo sem pressas. Para além destas atracções de que falei anteriormente, deve ainda ter em atenção os 2500 metros de muralhas, que forma a estrela de doze pontas, o fosso da fortaleza, que possui 12 metros de profundidade e ainda o antigo quartel de artilharia e cadeia, onde está sediada a Câmara Municipal.
Belmonte
Belmonte localiza-se no distrito de Castelo Branco e está intimamente ligada aos Descobrimentos Portugueses. A história desta localidade começa nas épocas mais remotas, mas começa a ganhar nome durante o séc. XII, quando o concelho municipal terá recebido o foral de D. Sancho I.
Belmonte
O que visitar: – Castelo de Belmonte
O Castelo medieval de Belmonte surge associado aos Descobrimentos Marítimos, uma vez que os seus Alcaides eram da família do navegador português Pedro Álvares Cabral. Acredita-se que o mesmo data do séc. XIII, quando D. Afonso III terá dado autorização ao bispo D. Egas Fafes para construir o castelo e uma torre, para complementar o sistema defensivo já existente na zona. Posteriormente, a partir do séc. XV, o castelo passou a servir de moradia e as funções militares do mesmo passaram para segundo plano.
Actualmente, na zona oeste da muralha ainda é possível observar uma bonita janela de estilo manuelino.
Castelo de Belmonte – Janela manuelina
– Museu dos Descobrimentos
O Museu dos Descobrimentos é um edifício de dois pisos, que terá servido em tempos como residência da família Cabral. Na fachada principal é possível ver, sobre o portão, o brasão dos Condes de Belmonte. Actualmente, alberga a Biblioteca e o Arquivo Municipal e no seu logradouro foi construído o Museu, que mais não é que um belo projecto que leva o visitante numa viagem na história da construção do nosso país.
Museu dos Descobrimentos
As minhas impressões:
Belmonte é uma localidade cuidada e limpa, cujas ruas nos levam numa viagem pelo tempo, dando uma vontade imensa de conhecer cada recanto do seu centro histórico. Para além do que visitei é possível ainda ver o Museu Judaico, o Ecomuseu do Zêsere, o Museu do Azeite, o Cemitério Judaico e a Sinagoga, entre outros.
Castelo Novo
Castelo Novo localiza-se no concelho do Fundão e nos seus primórdios foi um dos terrenos doados pelos monarcas portugueses à Ordem dos Templários, passando depois para a posse da Ordem de Cristo, para que pudessem assegurar o que já tinham conquistado aos muçulmanos, no séc. XIII. Mais tarde, e durante o reinado de D. Manuel I, a localidade foi sofrendo alterações que resultaram num património arquitectónico belíssimo. Grande parte do acervo arquitectónico da localidade, possui características medievais, mas existem também bastantes intervenções manuelinas e barrocas.
Castelo Novo
O que visitar:
– Capela de Santo António
Localizada no Largo de Santo António, na aldeia histórica de Castelo Novo, esta capela é uma construção medieval do séc. XVI. Possui uma simples mas bonita fachada com um alpendre suportado por duas colunas e um pequeno sino no cimo do telhado, possui ainda uma planta longitudinal simples, com um único espaço.
No seu interior pudemos encontrar a imagem do santo padroeiro, que data do séc. XVII.
Capela de Santo António
– Castelo
O Castelo, de arquitectura militar de estilo gótico e manuelino, foi erguido sobre um afloramento rochoso, na Serra da Gardunha e está ligado à presença da Ordem dos Templários na região. Acredita-se que o autor da sua edificação seja o Mestre da Ordem, D. Gualdim Pais, durante o reinado de D. Sancho I. Actualmente, apenas resta uma torre quadrangular, que foi aproveitada para construir um campanário.
Castelo de Castelo Novo
As minhas impressões:
Esta é sem dúvida uma aldeia belíssima, que vale a pena percorrer sem pressa e ir descobrindo todos os pormenores e marcas que espelham a história deste local e das suas gentes.
Para além do que mencionei anteriormente ainda poderá visitar os Chafarizes da Bica e de D. João V, a Igreja Matriz, as casas senhoriais, a antiga forca e ainda o Parque do Alardo.
Castelo Rodrigo
Castelo Rodrigo, pertencente ao concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, terá sido conquistada ao árabes, no séc. XI e ficado dependente do Reino de Leão. Até que em 1297, aquando do Tratado de Alcanizes passou definitivamente a fazer parte do território português.
Uma das particularidades de Castelo Rodrigo era o brasão que usava, que consistia nas armas de Portugal viradas de cabeça para baixo (brasão designado como “difamado” e um exemplo raro no mundo), acredita-se que o mesmo terá sido dado pelo Rei D. João I, como forma de castigo pela localidade ter tomado partido de Castela na crise de 1383-1385.
Paisagem a partir do Castelo
O que visitar:
– Castelo
Não há grandes certezas acerca da época da construção do Castelo de Castelo Rodrigo, mas sabe-se que aquando da reconquista cristã na Península Ibérica, Afonso IX de Leão terá mandado erguer um castelo, para integrar a linha defensiva implantada no Ribacôa. Este foi erguido 810 metros acima do nível do mar, sobre penedos de xisto e foi sofrendo várias reformas, nos diferentes reinados, quer de ampliação, quer de restauro, o que faz com que seja possível observar diferentes influências nas ruínas que ainda são possíveis observar. Da sua construção em estilo românico, é possível observar o formato circular das torres, da fase de D. Dinis vê-se o imponente portão de entrada, da época filipina mantém-se a porta principal do palácio de Cristóvão Moura, entre muitas outras características.
Em 1922, este castelo foi classificado como Monumento Nacional, tendo sido posteriormente objecto de um programa de intervenção.
Castelo
– Palácio de Cristóvão de Moura
O Palácio de Cristóvão Moura foi construído em 1590, no lugar da antiga alcáçova (zona mais elevada e mais protegida dentro de um castelo), para servir de residência a Cristóvão de Moura, filho de um antigo alcaide da vila. Este era um homem com extrema importância na administração de Portugal, durante o domínio filipino, o que fez com que o palácio fosse o símbolo da opressão espanhola para a população. Assim, aquando da Restauração da Independência portuguesa, o mesmo foi incendiado, tendo ficado em ruínas. Posteriormente, sofreu obras de consolidação dada a sua relevância militar. Contudo, apenas recentemente foi alvo de uma intervenção de “consolidação da ruína”.
Actualmente, é um lugar de excelência onde se realizam diversos eventos, que pretendem realçar e divulgar a sua beleza e a sua história.
Palácio de Cristóvão Moura
– Igreja Matriz
A Igreja Matriz de Castelo Rodrigo, fundada no séc. XIII, pela Confraria dos Frades de Nossa Senhora de Rocamador, é dedicada à Santa com o mesmo nome. Esta é um belo exemplar da mistura da arquitectura românica com a arquitectura gótica, que se foi mantendo apesar das constantes obras ocorridas durante o séc. XVI e XVII.
No seu interior está dividida em três naves e possui um belo tecto composto por caixotões de madeira pintado com diversas cenas hagiográficas. Na capela-mor pudemos encontrar diversos azulejos azuis e brancos, do séc. XVIII e no altar-mor é possível ver bonitos azulejos hispano-árabes.
Igreja Matriz
– Porta do Sol
A Porta do Sol é uma das três entradas para esta bonita aldeia histórica. Possui uma orientação para nascente, o que lhe confere uma paisagem sobre o Convento de Santa Maria de Aguiar, a fronteira com Espanha e ainda sobre o Penedo Durão.
Porta do Sol
– Padrão da restauração
O Padrão da Restauração, também conhecido como Padrão de Pedro Jacques (general que comandou as tropas na batalha) é um pequeno monumento comemorativo que invoca a participação de Castelo Rodrigo nos momentos da Restauração de Independência, mais propriamente, na Batalha da Salgadela, no dia 7 de Julho de 1664. Foi classificado como Monumento Nacional.
Padrão da Restauração
– Torreões Semi-circulares
Os torreões semi-circulares (inicialmente 13), em cantaria, que se encontram na muralha que envolve a vila de Castelo Rodrigo, confere uma paisagem única, quando nos vamos aproximando da localidade. Estes foram mandados construir por Afonso IX de Leão e actualmente apenas se encontram quatro ainda erguidos, mas com os seus topos já desmoronados.
Torreões Semi-circulares
As minhas impressões:
Castelo Rodrigo ainda mantém as suas características medievais, estando rodeada por imponente muralhas que permitem recordar a sua importante e bela história, sendo um local que merece a pena ser visitado. Vá sem pressas e delicie-se com o património histórico que aqui encontrará.
Poderá ainda visitar a Igreja e o Convento de Sta. Maria de Aguiar, o poço cisterna, a torre do relógio e o pelourinho.
Idanha-a-Velha
Idanha-a-Velha é uma pequena e pitoresca aldeia, extremamente conhecida pela enorme quantidade de ruínas, sendo por isso muito importante a nível arqueológico, para Portugal. Acredita-se que nos seus primórdios (séc. I a.C.) terá sido uma cidade romana, do território da Civitas Tallius, algo que é bem comprovado pela observação das muralhas edificadas entre o séc. III e IV, aquando do início das Invasões Bárbaras. Posteriormente, foi ocupada pelos árabes, até ser tomada por D. Afonso III, Rei de Leão. Mais tarde, passou a fazer parte do Condado Portucalense e D. Afonso Henriques deu-a aos Templários e posteriormente, D. Dinis incluiu-a na Ordem de Cristo, tendo passado assim por vários povos, algo comprovado pelos achados arqueológicos.
Complexo arqueológico de Idanha-a-Velha
O que visitar:
– Sé Catedral
A Catedral de Idanha-a-Velha é a antiga Catedral do bispado da Egitânia (nome dado a Idanha-a-Velha nos seus primórdios). Esta terá sido construída no séc. VI para o culto cristão, tendo mais tarde passado a ser uma mesquita, quando ocorreu a Invasão muçulmana na Península Ibérica. Quando a Península Ibérica foi reconquistada o edifício estava em ruínas (meados do séc. XIII) e terão sido os Templários a reconstruí-lo, para depois o dedicarem a Santa Maria.
Actualmente, é um museu, algo que acontece desde ter deixado de servir para culto no século XIX.
Sé Catedral
– Igreja Matriz
A Igreja Matriz de Idanha-a-Velha, antiga Misericórdia, foi construída no final do séc. XVI e é caracterizada pelo seu estilo renascentista, com várias influências populares. É conhecida pelo seu espólio de arte sacra, possuindo peças como a tela com a Senhora da Misericórdia, do séc. XVII e uma imagem barroca de Cristo crucificado. O seu interior é constituído por uma nave e possui uma bela capela-mor. Já na sua fachada bem no topo está uma Cruz de Tau e ainda uma Torre sineira, do séc. XVII.
Igreja Matriz
As minhas impressões:
Idanha-a-Velha é caracterizada pela sua pacatez, o que nos leva a ter alguma dificuldade a imaginar que este local foi em tempos tão movimentado e tão importante, algo que só é comprovado pelos seus magníficos achados arqueológicos, que a tornam numa autêntica aldeia museu.
Linhares da Beira
A aldeia histórica de Linhares da Beira, pertencente ao concelho de Celorico da Beira, é uma localidade medieval que terá sido habitada por romanos, visigodos e muçulmanos. Teve um importante papel na época da reconquista Cristã, papel que se foi mantendo até ao séc. XVII, uma vez que fazia parte do sistema defensivo que guardava a Bacia do Mondego. Esta bonita aldeia é um museu a céu aberto, oferecendo vistas magníficas sobre as montanhas, ar puro, história e cultura.
Linhares
O que visitar:
– Castelo
O Castelo está localizado a mais de 800 metros de altitude e foi uma das fortificações medievais mais importantes da Beira Alta. Acredita-se que terá sido construído durante o reinado de D. Sancho I e posteriormente alterado por D. Dinis. A partir do séc. XIV perdeu a sua função estratégica, quando foi alcançada a paz.
Actualmente, ainda é possível ver a Torre de Menagem e a Torre do Relógio (o relógio só foi instalado.no séc. XVII). Foi classificado Monumento Nacional em 1922, mas só em 1940 se procederam a obras de melhoria.
Castelo
– Pelourinho
O Pelourinho de Linhares da Beira é um pelourinho quinhentista, com ornamentação manuelina, com uma esfera armilar e uma cruz. Este tem uma base octogonal de três andares e o capitel tem forma de cone invertido.Neste local, muitas vezes, eram aplicados os castigos públicos, de modo a servirem de exemplo à população, mas era proibida a execução de qualquer sentença de morte. A sua história esta intimamente ligada à concessão do foral manuelina, em 1510.
Pelourinho
As minhas impressões:
Quando visitar Linhares da Beira não deixe de passear pela localidade, deixando-se encantar pelo magnífico conjunto urbano, composto pelas características e simples casas de granito e pelos belíssimos solares da nobreza.
Poderá ainda visitar a Igreja Matriz, os antigos Paços do Concelho e ainda o Solar dos Corte Real e o Solar Brandão e Melo.
Este artigo ficará por aqui, pois para que não ficasse muito extenso, fiz um segundo artigo falando das restantes aldeias históricas, Passeando pelas Aldeias Históricas de Portugal – 2 Alguns de vós já visitou qualquer uma destas fantásticas aldeias? Gostaram?
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