O artigo de hoje é dedicado à Catedral de São Nicolau, em Friburgo, na Suíça. A primeira igreja dedicada a São Nicolau está intimamente ligada à fundação da cidade, que terá sido consagrada em 1182 pelo bispo de Lausanne, Roger Vicopisano. Mas a verdade é que pouco se sabe sobre o edifício original. Venha connosco descobrir a Catedral de São Nicolau em Friburgo.
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Conteúdo do artigo
A Catedral
A actual Catedral de São Nicolau, de estilo gótico, localizada bem no centro da cidade medieval de Friburgo, terá sido iniciada em 1283 e terminada apenas em 1430. É composto por três naves, sem transepto, possuindo dimensões impressionantes, com uma elevação de três andares do coro e da nave. A sua bela torre possui cerca de 74 metros, mas segundo se consta a mesma continua inacabada por falta de verbas.
Ao percorrer este belo templo deparamo-nos com vários pontos que saltam à vista e que merecem ser destacados.
O exterior
Assim que chegamos à Catedral somos atraídos pela beleza do Portão principal, composto por um baixo relevo que representa o juízo final. Na parte superior, é possível ver Cristo mostrando as suas feridas, encimado por um dossel e rodeado, do lado direito, por São João Batista, e vários anjos e do lado esquerdo, pela Virgem Maria e também vários anjos. Na parte inferior encontra-se representada a cena do julgamento, propriamente dita, com várias esculturas.
No séc. XVII foi adicionado um friso, com um texto, a separar a parte superior da inferior.
O Portão é composto ainda por três arcos adornados com inúmeras estatuetas. O primeiro arco é constituído por 10 anjos, o segundo pelos 12 profetas e patriarcas e o terceiro por 14 figuras femininas.
Outro elemento de destaque deste belo templo gótico é a Torre. A sua construção começou por volta de 1370 e as duas primeiras etapas ficaram concluídas por volta de 1430, permitindo a elevação dos arcos da nave. Mais tarde, por volta de 1470 os trabalhos foram retomados, ficando a cargo do arquitecto Georges du Gerdil, tendo os mesmos cessado em 1490, segundo se consta, por falta de verba.
Com cerca de 76 metros de altura é possível subir ao topo da torre, através dos seus 368 degraus e obter uma vista de toda a cidade. Uma particularidade deste belo exemplar é o facto de a mesma passar de um plano quadrado, no primeiro e segundo piso, para um plano octogonal, no terceiro e quarto.
O interior
– Capela do Santo Sepulcro
Um dos principais destaques no interior da Catedral é a Capela do Santo Sepulcro, também conhecida como Capela de Mossu. Construída entre 1430 e 1457, a mando de Jean Mossu, esta é iluminada por duas janelas com bonitos vitrais, de Alfred Manessier. No altar é possível ver uma estátua de São Lourenço, e desde os meados do séc. XV, a capela abriga também um grupo de estátuas policromáticas, que representam o Enterro de Cristo.
No arco da entrada é possível ver Quatro anjos com instrumentos da Paixão e o segundo arco possui uma pintura que representa Oito anjos com instrumentos musicais.As pinturas da abóbada e dos pilares são posteriores a 1450.
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– Capelas Laterais
A Catedral de São Nicolau possui oito capelas laterais, que terão sido erigidas entre 1515 e 1759. Ao serem construídas foi-se tendo o cuidado de manter as características da arquitectura gótica patente no restante edifício. A primeira capela a ser construída, foi onde actualmente se encontra o altar do Sagrado Coração, em 1515, sob a alçada de Peter Falk. Já a segunda terá sido por volta de 1663 e é dedicada à Virgem Maria. Enquanto que as restantes apenas terão sido construídas em meados do séc. XVIII.
Os altares laterais foram colocados nas capelas laterais:
– Altar da Virgem e da Natividade (topo do corredor do lado esquerdo) – da autoria de Johann-Jakob e Franz Joseph Moosbrugger. Aqui é possível ver uma pintura retratando a Adoração dos Pastores e a Aparição da Trindade a São Francisco de Paulo, obra de Joseph Sauter.
– Altar de São João Evangelista e Santa Bárbara (primeira capela) – dos irmãos Moosbrugger. Onde se encontra uma Mesa retratando o Santo na companhia do evangelista e ainda uma cartela de São Mateus retratando Santa Margarida de Antioquia, de Joseph Sauter.
– Altar de Santo Estevão (segunda capela) – dos irmãos Moosbrugger. Onde encontramos na mesa um objecto representando o Santo e na parede uma pintura de São Jerónimo meditando.
– Altar dos Três Reis (terceira capela) – da autoria de Anton Pfister. Aqui está uma bonita pintura com a Adoração dos Reis Magos, de Paul Deschwanden e, no Ático, o Trigrama de Cristo. O túmulo da família de Diesbach está sob a capela.
– Altar dos Santos André e Cláudio, depois de São Sebastião (quarta capela) – também dos irmão Moosbrugger. É possível encontrar uma pintura retratando São Sebastião com os Santos António, o Eremita e André.
– Altar de São Tiago (no topo do corredor lateral à direita) – dos irmãos Moosbrugger. Onde é possível ver duas bonitas pinturas, uma da Santa Ceia e outra do Apedrejamento do Santo Estevão, da autoria de José Sauteur.
– Altar da Agonia de Jesus no Monte das Oliveiras e no Sagrado Coração (primeira capela) – onde se vê uma simples mas bonita pintura do Sagrado Coração de Jesus, de Paul Deschwanden.
– Altar do Santo Sepulcro, em seguida, Nossa Senhora das Victórias ou Nossa Senhora da Divina Proteção (segunda capela) – de Jean-François Doret, sob o patrocínio do Estado. Possui uma bonita tela retratando a Acção de Graças dos Magistrados de Friburgo após a primeira batalha de Villmergen, em 1656, um trabalho de Simon Goser.
– Altar de São Miguel, em seguida de Santa Ana (terceira capela) – da autoria de Anton Pfister. Nele é possível ver duas belas pinturas, uma representando Santa Ana com a Virgem Maria, de Paul Deschwanden e outra de São Jorge matando o Dragão, de Melchior Eggmann.
– Altar de Santo António ou de São Silvestre (quarta capela) – dos irmãos Moosbrugger. Possui também duas telas, uma representando o Batismo de Constantino pelo Papa Sylvester, e outra de São José e o Filho, ambas de Joseph Sauteur.
– Altar Mor
O actual Altar Mor, colocado na Catedral em 1876, de estilo neo-gótico. É da autoria da Casa Muller Wil e possui, na parte vertical a imagem de Cristo, o tabernáculo e um nicho, abrigando o Santíssimo Sacramento. No eixo horizontal é possível ver a Anunciação e o Casamento da Virgem Maria.
– Altar Principal
O Altar Principal, em frente aos portões do coro é uma obra de Georges Schneider feita em bronze e cobre. Nas laterais é possível ver representadas cenas relacionadas com o Êxodo: O Povo de Deus andando no deserto, Moisés fazendo a água fluir da rocha, A Montanha do Sinai, A junção do céu e da terra e ainda a cidade de Friburgo, onde originalmente era representada Jerusalém celestial.
– Vitrais
Outro dos destaques da Catedral são os seus vitrais. Terá sido durante o séc. XV, que foram colocados os primeiros,durante a fase final da construção da Catedral. Contudo, ao longo dos séculos os mesmo foram sendo substituídos por outros e os vitrais que pudemos ver actualmente serão já do séc. XIX.
Na década de 1890 foi lançado um concurso para a produção de vitrais originais, que embelezassem a Catedral. De entre 26 projectos a concurso, o mesmo foi vencido por um jovem artista bem talentoso, Josef Mehoffer. Este apresentou um projecto para oito janelas da nave e cinco do coro, cuja realização durou cerca de 41 anos. Na segunda metade do séc. XX, Alfred Manessier ficou encarregue de produzir os vitrais para a Capela do Santo Sepulcro, as janelas altas da nave e ainda a roseta da torre.
Vitrais de Mehoffer
Quando foi lançado o concurso para a execução dos vitrais, foi tido em atenção as especificidades da arquitectura gótica, que se caracteriza por janelas altas e estreitas. Como tal, decidiu-se que os vitrais dessas janelas iriam representar os patronos dos altares laterais, assim como, algumas cenas conhecidas da vida cristã, como a Adoração aos Reis Magos, o Santíssimo Sacramento, entre outras. Jósef Mehoffer trabalhou ao longo de 40 anos para finalizar o seu magnífico trabalho:
– Janelas dos Apóstolos (na primeira capela à esquerda) – neste vitral os anjos estão representados em movimento, sob os dosseis góticos: o galo da negação de Pedro e a imagem da Igreja como um barco, a águia de João Evangelista e a visão do Apocalipse, Tiago, o maior e Hermógenes, o mago, com uma representação da cidade de Cracóvia e ainda André e a visão da cruz do seu martírio. Este vitral de Art Nouveau possui vários motivos vegetais e o uso da técnica do cloisonnisme (estilo de pintura pós-impressionista).
– Janela de Nossa Senhora da Victória (na segunda capela à direita) – este belo vitral representa a vitória na Batalha de Morat, em 1476. Possui uma cena única, que cobre toda a janela, e representa o regresso após a vitória, protegida por São Miguel, onde os confederados seguram em suas mãos as bandeiras dos cantões, que depositam diante da Rainha do Céu, cercada de anjos, numa clara alegoria da pátria. No friso superior estão representadas as três virtudes teológicas da fé, esperança e caridade, bem como a virtude da força.
– Janela dos Mártires (na segunda capela à esquerda) – vitral representando quatro mártires, durante o seu martírio: São Maurício e a espada, São Sebastião e as flechas, Santa Catarina de Alexandria e a roda e Santa Bárbara e a torre. Na parte inferior do vitral os quatro mártires encontram-se entrelaçados com personagens femininas e na parte superior encontram-se representadas figuras angelicais e corvos, encimados por motivos florais e quatro pares de jovens, que representam a inocência dos mártires.
– Janela dos Três Reis (na terceira capela à esquerda) – representação da adoração dos Reis Magos, com os Reis, acompanhados por um anjo, a colocarem os seus presentes aos pés de Cristo, junto à Virgem Maria, enquanto José, o burro e o boi se afastam. A estrela de Belém ilumina toda a cena. Na parte inferior está representado o Rei Herodes, acompanhado da Morte, através dos corpos dos Santos Inocentes, senta-se com Santanás e a Serpente. – Janela da Eucaristia (na primeira capela à direita) – à direita está representado o sacrifício na cruz, de Cristo, levado por dois anjos. À esquerda a adoração da Eucaristia no sacrifício eucarístico, diante de uma jovem que retrata a virtude teológica da fé, e uma procissão de anjos espíritos .Na parte inferior é possível ver um bode preso a um arbusto de espinhos, numa clara alusão ao sacrifício de Isaac.
– Janela dos Santos, Bispos e Diáconos (na primeira capela à esquerda) – cada santo segura uma lanceta, enquadrada pelas virtudes teológicas e cardeais, bem como pela ciência. Este é um vitral com influência de Art Noveau como fundo, mas com características realistas, menos estilizadas do que outros vitrais do mesmo autor. – Janela de São Jorge, São Miguel, Santa Ana e Santa Maria Madalena (na segunda capela à direita) – aqui está representado São Jorge, como cavaleiro, a matar um dragão; o Arcanjo São Miguel, triunfante, aparece a lutar com Santanás; Ana é encimada pela sua filha, a Virgem Maria, enquanto uma fonte com símbolos cristãos flui a seus pés; Maria Madalena, enlutada, carrega o frasco de perfume, simbolizando o ardor da sua caridade.
– Janela de São Nicolau de Flue (na primeira capela à direita) – mistura de Art Nouveau, arte popular e monumental e realismo.
A criação das novas janelas do coro só começou após a conclusão das janelas da nave, ou seja, após a Primeira Guerra Mundial e aqui é possível ver três janelas centrais dedicadas à Santíssima Trindade e ainda umas janelas que representam a história da Igreja e do Estado de Friburgo.
Vitrais de Manessier
Após os vitrais de Mehoffer serem colocados nos respectivos locais, ainda havia três sítios sem vitrais: a Capela do Santo Sepulcro, as janelas superiores da nave e a Rosácea. E foi a Manessier que foi dada a obra, já na segunda metade do séc. XX.
Para o vitral da Capela, Manessier inspira-se no túmulo do final da Idade Média, de maneira a manter a temática da capela, aqui é possível ver a representação de Sexta-feira Santa à noite e a Manhã de Páscoa. Para as janelas superiores, o artista, escolheu o tema de Pentecostes, já para a Rosácea, escolheu o tema do Magnificat, sendo visível da Capela de São Miguel mas não da nave.
A Catedral abriga também dois órgãos, estando um deles bem em frente à Capela de São Miguel, no primeiro andar da torre. Este terá sido instalado entre 1426 e 1428, sendo substituído em 1636, por um órgão maior e mais tarde, entre 1824 e 1834 foi colocado o órgão que se mantém até aos dias de hoje, de Aloys Mooser. No coro, na parede sul encontra-se um órgão de Sebald Manderscheidt.
– Pinturas
A Catedral encontra-se ainda adornada por várias pinturas, mais precisamente na nave e no coro. Na nave, junto às janelas altas, é possível ver dezoito retratos dos profetas, enquanto que no tímpano dos arcos temos os retratos dos doze apóstolos e dos quatro Doutores da Igreja Latina.
Existem também duas grandes pinturas, do séc. XVI, que adornam a parede norte do coro e que representam Cristo Ressuscitado, aparecendo a São Pedro e outro mostrando Cristo a vencer a morte, ambos do francês Nicolas Hoey.
– Coro
O Coro foi construído entre os séculos XIII e XIV, tendo sofrido algumas alterações ao longo dos séculos. Entre 1627 e 1630 este sofre uma reconstrução, que esteve a cargo do engenheiro Jean Cotonnet, a mando do Bispo Jean de Watteville. O novo coro apresenta o interior um tanto sombrio e simples, destacando-se a sua abobada reticulada, obra do mestre Peter Winter, nela é possível ver o brasão do Estado de Friburgo, a Virgem Maria, São Nicolau de Myre, Santa Catarina de Alexandria, Santa Bárbara e São Carlos.
Bem por cima do coro é possível ver um Calvário a decorar o arco triunfal, com Cristo na Cruz, a Virgem Maria e São João, existindo por baixo uma viga de carvalho pintada de azul e adornada com a inscrição biblíca Empti estis pretio magno, glorifique e portate Deum in corpore vesto.
– Fonte Batismal
Uma das mais bonitas peças desta Catedral é a sua Fonte Baptismal, uma obra-prima da escultura gótica de Hermann e Gylian Aetterli, feita entre 1498 e 1499, está localizada junto à capela de Nossa Senhora da Vitória. Nela é possível ver Cristo, um anjo usando uma túnica, São João Baptista, os quatro evangelistas e ainda São Nicolau de Myre.
Existem muitos outros pormenores a descobrir na Catedral de São Nicolau, contudo estes são aqueles que mais se destacam, no meu ponto de vista.
E assim descobrimos mais uma Catedral europeia. Descobrir Catedrais à volta da Europa tem sido um desafio e tanto e é fantástico ver como a arte sacra pode ser tão maravilhosa e tão diferente de cidade para cidade.
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Oi! Patrícia, vou viajar para a Suiça nos próximos meses e estou ansiosa para conhecer esta Catedral de São Nicolau, fiquei encantada só de ler seu blog.
Fico feliz que tenha gostado. Já fui 3 vezes à Suiça e de todas me encantei. Se eventualmente precisar de dicas é só dizer.
Que interessante, a arquitetura e essas pinturas são belíssimas. Já imagino o quanto de história presenciou a Catedral de São Nicolau. Adorei o post! 🥰👏👏👏
Que incrível a catedral de São Nicolau! Tenho muita vontade de visitar Friburgo e vou incluir no meu roteiro com certeza. obrigada pelas dicas!